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quinta-feira, 8 de março de 2012

Violeta Formiga homenageada



Violeta Formiga: uma homenagem merecida

(Neide Medeiros Santos) **

Os poetas não têm biografia. Sua obra é sua biografia.
(Otávio Paz. O desconhecido de si mesmo).

Violeta de Lourdes Gonçalves Formiga este é o nome completo da poeta. Violeta Formiga é o nome artístico. Vítima da sanha de algum menino perverso que não queria a sua convivência com os humanos, voou, como diz o poeta Manuel Bandeira, para o céu dos passarinhos no dia 21 de agosto de 1982. Denominar este colégio de Violeta Formiga é uma homenagem que o prefeito Ricardo Coutinho presta a quem soube cantar a liberdade como os grandes poetas e citamos, entre outros, o romântico Castro Alves, o chileno Pablo Neruda e o moderno Ferreira Gullar.
Para melhor compreender a dimensão poética de Violeta Formiga, julgamos necessário fazer um breve relato biográfico, trazer opiniões de poetas e jornalistas registradas em jornais por ocasião do lançamento de seu livro póstumo – Sensações e apresentar alguns poemas de sua lavra.
Violeta nasceu na cidade de Pombal, sertão da Paraíba, no dia 28 de maio de 1951. Era filha de José Formiga e Dona Prima Gonçalves Formiga. Passou a infância e adolescência na cidade de Pombal. Estudou no Colégio Diocesano e na Escola Normal Arruda Câmara na sua cidade natal. Em 1971, transferiu-se para João Pessoa e ingressou na Universidade Federal da Paraíba no curso de Psicologia. Na Universidade, já revelava tendências para a poesia e começou a divulgar seus poemas nos jornais da capital e no jornal literário Correio das Artes.
A poeta paraibana viveu apenas 31 anos, tinha quase a mesma idade de Augusto dos Anjos (30), e como Augusto deixou apenas um livro – Contra Cena. Após a sua morte, os amigos reuniram poemas inéditos e publicaram Sensações, uma edição póstuma. Pinçamos algumas opiniões dos amigos que se encontram, também, registradas nesse livro.
O escritor e jornalista Anco Márcio destaca, com muita emoção, o local escolhido para alojar a bala assassina:
Logo no coração. Meu Deus, no lugar onde ela guardava todo o seu estoque de poesia.
O jornalista Evandro Nóbrega traça o retrato físico de Violeta Formiga que pode ser confirmado pelo trabalho do artista plástico Domingos Sávio:
Morena, com um ar de boneca ágil, pequena, sorridente, bonita a seu jeito, pulsante de cor e energia. Os olhos pretos, vivos, penetrantes, prazenteiros, joviais.
O cronista Francisco Pereira Nóbrega deixou expresso, nessas palavras, a maneira de ser de Violeta e seu desejo de ser pássaro:
Violeta, onde estiver, estará repetindo a primeira frase que me disse: “deixaram a gaiola aberta o passarinho voou. Achei foi bom.”
A professora Wilma Wanda lamenta não poder acompanhar a poeta na sua nova trajetória:
Minha tristeza é não poder acompanhar contigo o desenho dos pombos voantes, o destino dos trens pelas montanhas e o brilho tênue de cada estrela brotando à margem do crepúsculo.
O poeta Cláudio Limeira, com poucas palavras, resume o canto poético de Violeta:
Cante a última canção sem viola.
Não sou poeta, mas ousei deixar um registro a respeito de Violeta Formiga no livro Sonho de uma feliz cidade, organizado por Heriberto Coelho em 2007, com selo do Sebo Cultural:
[...] no dia 21 de agosto de 1982, a cidade de João Pessoa, que acolhia a poeta de Pombal com afagos de mãe, acordou mais triste, acordou sem Violeta Formiga.
O mês era agosto e João Pessoa amanheceu sem... Violeta Formiga.
Feitas essas breves considerações, vejamos dois poemas de Violeta, representativos do seu jeito de poetar e cantar a vida.
No poema Dádiva que apresentaremos a seguir, nota-se o desejo de voar e de ser pássaro:
Dádiva
Ser pássaro
e voar infinito.
(Que seja este
o meu útlimo
castigo).

Ária No.3 é outro poema revelador do desejo de ser pássaro e da angústia existencial vivenciada pela poeta. Comprovemos:
Ária No. 3
Um pássaro noturno
vagueia
a procura da sua própria
procura.
A cantar para o vazio
a mesma balada
sai repetindo
sua triste canção de angústia
por se encontrar
no tempo sozinho.

Para concluir, apresentaremos, a seguir, um Poema Colagem, uma montagem que organizamos, um resumo da vida e da poesia de Violeta Formiga e um poema de Paulo Nunes Batista, poeta paraibano, radicado em Goiás que, após a leitura da plaquete Violeta Formiga: 25 anos de encantamento, escreveu esta bonita canção: Canção para a desconhecida amiga Violeta Formiga.
Poema Montagem:

EU, Violeta Formiga
Saio de mim mesma
como pássaro
do ovo.
De espaço
e asas
faço meu aprendizado,
mágico vôo.

Minha vida
por uma única
palavra:
Liberdade.
(Então eu
serei feliz
como os anjos
que ainda não
nasceram).

Não deixe que eu morra
me sinta.
É assim que eu sou
alegre e triste,
eterna e efêmera
amante do belo
e da miséria companheira.

Ser pássaro
e voar infinito.
(Que seja este
o meu último
castigo).

Canção para a desconhecida amiga Violeta Formiga

Violeta Formiga
cumpriu sua carma
armou seu vôo
de Mulher passarinho
de ternura morena
com seu Sorriso aberto
seu Olhar de noite irrevelada.

Violeta suspiro de viola
lágrima de flauta doce
risada de violão na tarde
choro de bandolim amadrugado
plano deseperado na chuva
expirar de onda na praia.

E essa distância fragrante da manhã?
E essa solidão de música insatisfeita?
E essa Violeta disfarçada em risos?
E esses rastros de luz pelo Caminho?

Peço-te perdão
por todos os homens
que esmagaram em ti
as pétalas de luz,
Violeta...

Há um pombal voando
nas asas do teu nome.

Os poemas utilizados no texto montagem foram extraídos dos livros Contra Cena e Sensações. O poema de Paulo Nunes Batista, do livro Samburá da Parahyba.
(* Texto apresentado na Escola Municipal Violeta Formiga, no dia 5 de junho de 2009, por ocasião da entrega de 200 livros de literatura infantil e 20 livros de autores paraibanos para a Biblioteca da Escola e publicado no blog "Eu amo literatura" no dia 08 de março de 2012 - Dia Internacional da Mulher).
(** Neide Medeiros Santos é coordenadora do Projeto “Mandala de Livros” e Representante da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil na Paraíba Pertence à Academia Feminina de Letras e Artes da Paraíba e sua patrona é Violeta Formiga).

Um comentário:

Josival disse...

Não sabia nada sobre essa poetiza pássaro. Aumentei minha cultura, em breve vou tentar ler o livro dela.
Josival Dutra Cavalcanti